domingo, 29 de julho de 2012

Teatro Japonês


“É a poesia que movimenta sem esforço o céu e a terra, e desperta a compaixão dos deuses e demônios invisíveis, e é a dança que na dança que a poesia assume forma visível”. Essas palavras constam da introdução da primeira coletânea japonesa de poemas, Kokinshu, publicada em 922. O teatro japonês pode ser descrito como uma celebração solene, estritamente formalizada, de emoções e sentimentos, indo da invocação pantomímica dos poderes da natureza às mais sutis diferenciações da forma dramática aristocrática. Sua mola propulsora está no poder sugestivo do movimento, do gesto e da palavra falada. Dentro desses meios de expressão, os japoneses desenvolveram uma arte teatral tão original e única que desafia comparações, pois qualquer comparação será invariavelmente relevante para um só de seus muitos aspectos.
À primeira vista, a coexistência de muitos gêneros e formas completamente distintos de teatro parece confusa. A arte teatral do Japão moderno não é resultado de uma síntese; resulta de um pluralismo multifacetado, de séculos de desenvolvimento. Sua história não é uma cadeia de estágios evolutivos que se superam; assemelha-se mais a um instrumento ao qual são acrescentadas novas cordas, em intervalos, cada uma paralela às outras. O comprimento de cada corda (para evocar uma alusão à história) determina seu som. Mas entre as cordas há o silêncio, silêncio como contraente do pathos e sua culminação última. “Considero que o pathos seja inteiramente uma questão de contenção”, escreveu o dramaturgo japonês Chikamatsu por volta de 1720: “quando todos os componentes da arte são dominados pela contenção, o resultado é muito comovente…”
Os estilos distintos do teatro japonês constituem ao mesmo tempo um marco miliário. Cada um deles reflete as circunstâncias históricas, sociológicas e artísticas de sua origem. As danças kagura do primeiro milênio testemunham o poder de exorcismo dos ritos mágicos primordiais. Os gigaku e bugaku, peças de máscaras, refletem a influência dos conceitos religiosos budistas, emprestados da China nos séculos VII e VIII. As peças dos séculos XIV e XV glorificam o ethos do samurai. As farsas kyogen, apresentadas como interlúdios grotescos e cômicos entre as peças nô, anunciam a crítica social popular. O kabuki do início do século XVII foi encorajado pelo poder crescente dos mercadores. No final do século XIX, o shimpa, sob a influência ocidental, trouxe pela primeira vez temas atuais com uma tendência marcadamente sentimental ao palco. No shingeki do século XX, os jovens intelectuais japoneses finalmente tomaram a palavra.
Todas essas formas básicas do teatro japonês – incluindo também o bunraku, teatro de bonecos de Osaka – permanecem vivas até hoje, simultaneamente e lado a lado. Cada qual tem seu público próprio e específico, seu próprio teatro, seu valor atemporal.

História mundial do Teatro, de Margot Berthold

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